Não há novidade nos dados do Censo 2010 relativos à diminuição do número dos que se dizem católicos. O decréscimo vem se dando a cada ano e se deve a vários fatores sócio-religiosos. A questão a ser colocada é outra: quem disse que o catolicismo precisa ser a religião majoritária – e francamente majoritária - no Brasil? Que a Igreja ganha ou perde com isso? A credibilidade e autoridade de uma igreja não se medem pelo número de seus membros, independente da qualidade deles. A Igreja católica não é um clube. Ela existe para ser comunidade de fé, de esperança e de caridade. Se ela crescer nisso, está cumprindo sua missão.
Fiquei surpreso não tanto com o número dos ateus que está crescendo, mas em saber que existe uma associação deles no Brasil. Não sei qual a finalidade da associação nem para quê ela existe. De repente, será para fazer propaganda da independência que eles gostam de aparentar diante da Igreja Católica – sempre uma instituição forte, de posturas definidas e excelente alvo a ser atingido. Que tal se gastassem seu tempo em anunciar a “anti fé”, o materialismo, a liberdade plena e irrevogável? Há quem não aceite as utopias da fé, mas que precisam de outro tipo delas para sobreviver.
A cúpula da Igreja, CNBB, tem estudado o fenômeno das mudanças religiosas no Brasil. Até algumas iniciativas pastorais foram tomadas para se estar mais perto das pessoas, como melhorar o atendimento dos fiéis nas paróquias; incentivar a formação de comunidades; reforçar a catequese em busca da formação de cristãos que sejam discípulos e missionários; maior atenção aos jovens, etc. Sobre a presença maior da Igreja na comunicação social, vejo certa confusão. Há quem pense em rádio e TV para concorrer com os evangélicos, o que, aliás, alguns setores parecem fazer. Mas comunicação é relacionamento. Não é falação nem são discursos, nem imposição de verdades. O modo inteligente de fazer pastoral nesse campo é manter diálogo com quem quer que seja em busca da verdade, do bem, do conhecimento de Deus e da fraternidade com os irmãos. Onde está a caridade e o amor, Deus aí está.
O Concílio Vaticano II foi uma significativa reforma na Igreja Católica, reforma mais do que necessária. Mas em momento algum os bispos e o Papa faziam as mudanças com objetivo de fazer crescer o número de católicos. A questão número nunca foi a preocupação até porque o próprio Jesus reuniu um pequeno grupo. E mais: ele disse que os seus discípulos levem o sal para dar sabor à comida e o fermento para fazer a massa crescer. Os cristãos, pois, não devem estar preocupados em ser uma massa que impressione. Devem ser sinal de contradição diante do malfeito e da mentira. O Vaticano II trouxe significativa mudança na qualidade dos católicos. É isso que interessa.
A discussão sobre ser ou não a religião majoritária no Brasil deve interessar mais aos pesquisadores do que aos católicos que, de fato, querem ser seguidores de Jesus. Nem tem sentido forçar a Igreja Católica a afrouxar sua doutrina moral para não perder fiéis. Esse tipo de discurso revela ignorância sobre a pessoa de Jesus e os evangelhos. Certamente daqui a 20 ou 30 anos os católicos não serão a maioria no Brasil. E daí? Será, por acaso, um país pior do é que hoje?
Padre César Moreira é Missionário Redentorista, jornalista, diretor geral da Rede Aparecida de Comunicação e apresentador do o TJ Aparecida. Autor de vários livros pela Editora Santuário.
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