quarta-feira, 22 de outubro de 2014

É verdade que Deus castiga?

Deus, sendo todo amor, pode castigar Seus filhos?

Muitas vezes, diante de tragédias, mortes, catástrofes e acontecimentos desagradáveis, deparamo-nos com a declaração: “Foi a vontade do Senhor”. Entretanto, também é sabido que Ele é amor e incapaz de atos maus. Então, o que pensar? Deus castiga ou não?


Para esclarecermos essa questão, encontramos, no livro de Hebreus, uma característica de Deus-Pai: “O Senhor corrige quem Ele ama e castiga quem aceita como filho” (cf. Hb 12, 6). Então, poderíamos dar por encerrado o assunto e aceitar que Deus castiga e que a Bíblia confirma isso. Porém, na “Constituição Dogmática Dei Verbum, art. 12”, a Igreja nos exorta que “para aprender com exatidão o sentido dos textos sagrados deve-se atender com não menor diligência ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, levadas em conta a tradição viva da Igreja toda e a analogia da fé”.

Para entendermos o que nos diz a Carta aos Hebreus, precisamos observar o que Jesus nos disse a respeito do Pai. Em Jo 18,12, Jesus fala do pastor que deixa todas as ovelhas para buscar aquela única que se perdeu. Ainda em Jo 6,26-28, Cristo faz referência ao cuidado do Pai em relação aos pássaros e nos afirma: “Vocês são muito mais valiosos para o ‘seu Pai’ do que eles!”. Quando lemos essas passagens, pensamos em um pai carrasco que castiga?

No livro do Eclesiástico, podemos encontrar resposta para essa questão: “Não digas: ‘De Deus vem o meu pecado!’”, pois o Senhor não faz o que Ele próprio detesta. (…) Desde o princípio, o Senhor criou o ser humano, entregou-o às mãos do Seu arbítrio e o deixou em poder da sua concupiscência. (…) Diante do ser humano estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir” (cf. Eclo 15,11-21). Vale a pena dar uma lida nesse trecho todo.

Acontece que, muitas vezes, se torna mais fácil lançar a culpa em Deus, pois assim não assumimos a responsabilidade e as consequências de nossas próprias escolhas.

O Senhor nos dotou de consciência e inteligência para entendermos os resultados de nossos atos. Muitas vezes, não levamos em conta que nossas opções atingem também as pessoas que estão ao nosso redor, e tudo isso gera um resultado: “o que alguém tiver semeado é isso que vai colher” (Galatas 5, 7).

Deus não ‘castiga’ quem erra, mas por amor pode não interferir nas consequências de nossas escolhas, permitindo assim que colhamos a experiência do erro e aproveitemos disso para nosso crescimento.

E de modo nenhum isso faz de Deus um carrasco ou vingador. A intenção do Senhor é uma só: levar-nos a uma conversão verdadeira, e Ele sabe que, em algumas situações, a dor é o início de uma vida nova. Também o sofrimento, quando bem vivido, torna-se fonte de purificação dos nossos pecados e dos pecados do mundo.

Algumas pessoas têm medo de Deus, e por isso buscam não errar, o que não os permite agir como filhos, mas sim escravos. Outros pensam na recompensa que o Senhor lhe dará por não errarem e medem suas ações como mercenários interesseiros. Porém, toda a Bíblia tem como intenção nos levar a assumir o lugar de filhos, somente desse modo poderemos viver realmente e entender que “Deus nos trata como filhos. E qual é o filho que não é corrigido pelo Pai?”.

Quando temos em nosso coração a certeza de que somos filhos amados de Deus, e que Ele quer nos salvar, começamos a olhar o que vivemos não mais como castigo, mas como oportunidades que o Pai usa para nos corrigir e nos aproximar d’Ele.

“Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Conf. Rm 8,28). Essa é a certeza que precisa habitar sempre em nós. Não só as coisas boas, mas também as ruins concorrem para o nosso bem.

Peçamos a Deus a graça de assumirmos o lugar de filhos amados, e então, não mais como escravos, veremos o agir do Pai em nossa vida como providência para nossa conversão pessoal.

 Canção Nova 

Ciúme e incompreensão desmembram a Igreja, diz Papa

catequese papa_ciúme e inveja

“Igreja, Corpo de Cristo” foi o tema da catequese do Papa Francisco, nesta quarta-feira, 22. O Santo Padre falou da comunhão e do amor que marcam uma comunidade de fé, ressaltando, porém, como o ciúme e a incompreensão causam divisões na Igreja.

O Papa definiu a Igreja como a “obra-prima do Espírito”, que infunde em cada um a vida nova do Ressuscitado e faz de todos um só corpo. Mas Igreja não é só um corpo edificado no Espírito Santo, mas sim o Corpo de Cristo; trata-se de um dom recebido no batismo, que tem como consequência uma profunda comunhão de amor.

Cristo ama a Igreja. É preciso corresponder a este amor e compartilhá-lo, disse o Papa. Ele explicou que as divisões, as invejas, as incompreensões e a marginalização não edificam a Igreja como Corpo de Cristo; pelo contrário, desmembram-na.

“Não ser ciumento, mas apreciar nas nossas comunidades os dons e as qualidades dos nossos irmãos. Pois sentir ciúme se alguém comprou um carro ou ganhou na loteria faz desmembrar o Corpo de Cristo. O ciúme cresce e enche o coração, e um coração ciumento é ácido, e em vez de sangue parece ter vinagre”.

Outro conselho do Pontífice é demonstrar proximidade com os que sofrem, expressar a própria gratidão a todos e, de modo especial, aos que desempenham os serviços mais humildes. E, por último, não se sentir superior aos outros.

“Quantas pessoas se sentem superiores aos outros. Também nós dizemos como aquele fariseu da parábola: ‘Agradeço-lhe, Senhor, porque não sou como aquela pessoa, sou superior’. Jamais faça isso. Quando acontecer, lembre-se dos seus pecados, daqueles que ninguém conhece e se envergonhe diante de Deus e feche a boca”.

Francisco concluiu a catequese pedindo ao Espírito Santo que ajude os fiéis a viverem como Corpo de Cristo, unidos como família e como sinal visível e belo do amor de Cristo.

Rádio Vaticano