terça-feira, 22 de abril de 2014

O ecumenismo no pontificado de João Paulo II

JPII e Bartolomeu


“Desde o começo de meu pontificado, fiz do ecumenismo a prioridade de minha preocupação e ação pastoral”, afirmou João Paulo II em 1989 em discurso realizado na Cerimônia de Boas -Vindas, em Oslo, Noruega.
A frase do Papa polonês indica um pontificado rico em atos, textos e iniciativas no campo ecumênico. Um dos principais fatos foi a publicação da Carta Encíclica Ut unun sint.
O documento publicado em 25 de Maio de 1995 caracteriza os esforços de João Paulo II para colocar em prática o desejo do Concílio Vaticano II, em restaurar a unidade entre todos os cristãos, como destaca o Decreto Unitatis Redintegratio, assinado por Paulo VI em 1964.
Na Encíclica, João Paulo II agradece ao Senhor por ter inspirado a Igreja a prosseguir pelo “caminho difícil, mas tão rico de alegria”, da unidade e comunhão entre os cristãos. “Os diálogos interconfessionais a nível teológico deram frutos positivos e palpáveis: e isso encoraja-nos a continuar para diante”, comenta Wojtyla.
De acordo com o presidente da Comissão Episcopal para o Ecumenismo da CNBB, Dom Francisco Biasin, na Ut unum sint, João Paulo II aprofundou a reflexão e deu notoriedade ao assunto.
“Nessa Encíclica, ele inclusive deu um passo que o Papa Francisco retoma: o de reintepretar a prática, a vivência do primado de Pedro, do Primado, portanto, da Igreja de Roma”, explica o bispo.
O ecumenismo no pontificado de João Paulo II
Dom Francesco Biasin fala do empenho de João Paulo II no diálogo ecumênico / Foto: Arquivo-CNBB
Ainda segundo Dom Biasin, nesse documento João Paulo II lança um apelo que nenhum Papa tinha lançado. “Ele diz:  me ajudem a encontrar formas pelas quais essa primazia da Igreja  não seja um empecilho à unidade, mas seja um incentivo à unidade”, explica.
João Paulo II apontou em suas diversas colocações sobre o ecumenismo, e mais precisamente na Encíclica, que além das divergências doutrinais a resolver, os cristãos não podem ignorar o peso das  incompreensões que herdaram do passado, dos equívocos e preconceitos de uns relativamente aos outros.
“Não raro, depois, a inércia, a indiferença e um conhecimento recíproco insuficiente agravam tal situação. Por este motivo, o empenho ecumênico deve fundar-se na conversão dos corações e na oração, ambas induzindo depois à necessária purificação da memória histórica”, aponta o Papa.
Foi este, segundo o próprio Papa, o papel de seu pontificado no caminho ecumênico, purificar a memória histórica dos séculos de embates entre cristãos, divisões, e até mesmos os grandes cismas.
Encontros históricos
Além das palavras, os gestos de Wojtyla marcaram profundamente o caminho da Igreja no processo de reconciliação. Por sua iniciativa, encontros históricos aconteceram em suas viagens, mas também no Vaticano. Alguns deles fizeram avançar o caminho de reaproximação.
João Paulo II encontrou-se pela primeira vez com o arcebispo anglicano de Canterbury, Robert Runcie, em 9 de março de 1980. Dois anos mais tarde, eles voltaram a se encontrar e divulgaram uma Declaração, afirmando que o progresso comum depende do “diálogo que se foi estabelecendo há uns 40 anos e graças ao qual católicos e anglicanos procuraram encontrar o caminho da unidade da fé e da comunhão que desejava Cristo para a Sua Igreja”.
Em 3 de dezembro de 1987,  João Paulo II encontrou-se com o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Sua Beatitude Dimitrios. Eles assinaram uma Declaração Conjunta, afirmando o desejo de caminhar no diálogo e compreensão entre o Patriarcado e a Igreja Católica.
Um dos últimos e mais significativos gestos de aproximação com a Igreja Ortodoxa foi a entrega do Ícone da Mãe de Deus de Kazan – que havia pertencido ao Patriarcado ortodoxo – ao Patriarca Aléxis II, em 25 de agosto de 2004. Junto da imagem, o Papa enviou uma mensagem:
“O bispo de Roma orou diante deste Ícone pedindo que chegue o dia em que todos nós estejamos unidos e sejamos capazes de proclamar ao mundo, com uma só voz e em visível comunhão, a salvação de nosso único Senhor e seu triunfo sobre o mal e as forças ímpias que buscam ferir nossa fé e nosso testemunho de unidade”, declarou.
Em cada gesto, e nas atentas palavras sobre o desejo de plena reconciliação entre os cristãos, João Paulo II deixou registrado o seu legado de unidade. “Para a Igreja Católica, portanto, a comunhão dos cristãos não é senão a manifestação neles daquela graça, pela qual Deus os torna participantes da sua própria comunhão, que é a vida eterna. Por isso, as palavras de Cristo – que todos sejam um- são a oração dirigida ao Pai para que se cumpra plenamente o seu desígnio”, declara o Papa polonês na Ut unun sint.
Confira na lista abaixo os principais atos de João Paulo II em favor do Ecumenismo
1980
  • 9 de março: Encontro de João Paulo II e do Arcebispo de Canterbury, Robert Runcie
1982
  • 29 de maio: Declaração conjunta de João Paulo II e do Arcebispo de Canterbury, Dr Robert Runcie , no final da Celebração Ecumênica na Catedral Anglicana de Canterbury .
1987
  • 3 de dezembro: Visita a João Paulo II de Sua Santidade Dimitrios, Patriarca Ecumênico de Constantinopla – Assinatura de uma Declaração Conjunta
1991
  • 5 de outubro: Celebração ecumênica na Basílica Vaticana, por ocasião do VI centenário da canonização de Santa Brígida da Suécia. Pela primeira vez desde a Reforma, dois bispos luteranos rezaram na Basílica de São Pedro com o Papa e os bispos católicos de Estocolmo e de Helsinque.
  • 7 de dezembro: Celebração ecumênica de Oração na Basílica Vaticana, por ocasião da Assembleia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos.
1995
  • 25 de maio: Carta Encíclica Ut unum sint  sobre o empenho ecumênico, publicada em 30 de maio de 1995 (Acesse a encíclica)
  • 27 de junho: Visita de Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico de Constantinopla, ao Santo Padre e à Igreja de Roma – Assinatura de uma Declaração Conjunta (27-30 de junho 1995).
2000
  • 18 de janeiro: Abertura da Porta Santa da Basílica de São Paulo fora dos Muros e Celebração Ecumênica com os representantes de Igrejas e Comunidades eclesiais 
  • 7 de maio: Comemoração Ecumênica das testemunhas da fé do Século XX, no Coliseu.
2001
  • 25 de janeiro: Celebração ecumênica na Basílica de São Paulo fora dos Muros na conclusão da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
2002
  • 11 de março: Audiência à Delegação da Igreja Ortodoxa da Grécia, guiada pelo Metropolita de Attikis, Panteleimon .
  • 4 de outubro: Celebração ecumênica das Vésperas na Basilica Vaticana, por ocasião do VII Centenário do nascimento de Santa Brígida da Suécia, Co-Padroeira da Europa. 
2003
  • 2 de outubro: Visita ao Santo Padre do Arcebispo de Canterbury e Primaz da Comunhão Anglicana , Dr. Rowan Douglas Williams (2-5 de outubro de 2003.
2004
  • 29 de junho: Visita ao Santo Padre do Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu I. Assinatura de uma Declaração Conjunta (28 de junho – 2 de julho de 2004. 
  • 25 de agosto: Entrega em Moscou, por parte da Delegação da Santa Sé, do Ícone da Mãe de Deus de Kazan’ ao Patriarca Aléxis II, como presente do Santo Padre à Santa Igreja Ortodoxa russa e a todo o povo russo.  
  • 27 de novembro: Entrega das Relíquias dos Santos Gregório Nazianzeno e João Crisóstomo, Bispos e Doutores da Igreja, ao Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I. 
Fonte: cancão Nova

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