Era uma tarde de verão parecida com tanta outras. O ar puro e o balanço das árvores, que nos faziam companhia, assim que deixamos a cidade grande, inspirava liberdade. O tempo começava a ficar estranho ou “bonito para chover”, mas era tão longe... “Não precisávamos nos preocupar!” Pensava eu com uma pontinha de desconfiança, lá no fundo da alma feminina, que oscila entre razão e sensibilidade.
De vez em quando, eu olhava orgulhosa para meu esposo, que, de mãos fixas no volante, parecia desbravar cada quilômetro da estrada com uma conquista. Entre palavras e risos, seguimos nós dois e uma amiga em comum. Até que, de repente, a chuva, que parecia longe, nos alcançou como uma tempestade daquelas que só vemos nos filmes. O nosso estado de ânimo também mudou de repente. Naquele tempo, estávamos preocupados com o que poderia acontecer a qualquer momento, já que a forte chuva, misturada com vento e granizo, nos impedia de ver um metro a nossa frente. Os carros começavam a parar na própria via e todos tinham de se ajudar, tomando decisões rápidas e certeiras. Qualquer vacilo poderia causar um desastre!
Provavelmente, você esteja ansioso para saber o resultado desta aventura, não é verdade? Fique tranquilo, pois, graças a Deus, deu tudo certo! Aliás, foi maravilhoso! Nós conseguimos, juntos, superar os riscos e vencer os desafios.
A alma feminina, embora terna, vibra com desafios e riscos. Somos assim: um misto de delicadeza e força, razão e sensibilidade. “Então, chegou o dia em que o risco necessário de permanecer apertada em um botão era mais doloroso que o risco necessário para florir...” (Anaïs Nin).
Quando chega esse dia, a mulher anuncia ao mundo que está viva e arranja, no mais íntimo do seu ser, a coragem para florir! Basta, por exemplo, ver um filho doente, que a mulher desabrocha e se doa sem medidas, enquanto exala amor e esperança em forma de cuidados. E quando a dor da perda a visita, muitas vezes, consegue renascer dos escombros e continuar florindo, embelezando novos jardins. O fato é que a mulher tem força e sensibilidade impressas na alma.
João Paulo II, em sua Carta às Mulheres, em 1995, diz que, pelo simples fato de sermos mulheres, com a percepção que é própria da feminilidade, enriquecemos a compreensão do mundo e contribuímos para a verdade plena das relações humanas. É de se perguntar: mas como enriquecer a compreensão do mundo pelo simples fato de ser mulher?
A Bíblia narra, em Gênesis 2, que Deus criou todas as coisas e ofereceu tudo ao homem, mas nada satisfazia o coração dele. Então, o Senhor criou a mulher com tudo que lhe é próprio. Quando o homem a viu, ficou tão extasiado diante dela, que fez a primeira e a mais linda declaração de amor que conhecemos: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; será chamada “Isha”...”, que, no hebraico, significa mulher, ajuda. A partir de então, o homem andava feliz, e tudo tinha um novo sentido. Deus havia lhe dado uma companhia adequada para partilhar suas lutas e vitórias pelo resto da vida.
O Senhor faz tudo com perfeição, criou a mulher completamente diferente do homem, para que um completasse o outro. Basta observar, em nosso corpo, por exemplo, que cada membro tem sua finalidade específica; e não para por aí. Nossa maneira de ser e agir também são completamente diferentes. Saber respeitar essas diferenças e tirar bom proveito delas é uma arte que precisamos praticar todos os dias se desejarmos uma vida mais feliz.
Costumo dar risadas do meu marido, quando peço para ele pegar alguma coisa na gaveta da cômoda, por exemplo. Geralmente, por mais que eu lhe explique com detalhes onde está o objeto, ele volta minutos depois afirmando que não o encontrou e que, certamente, eu estou enganada. Porém, se eu mesma me levantar e for ao local, encontro o objeto exatamente onde eu disse que estava. Você já viveu algo assim? Fique tranquila, seu companheiro não tem problemas de vista.
Segundo os pesquisadores Allan e Bárbara Pease, homens e mulheres evoluíram de formas diferentes. Os homens, durante a pré-história, eram responsáveis pela caça e as mulheres ficavam na caverna, cuidando da prole. Como caçador, o homem precisava ser capaz de identificar e perseguir alvos distantes. Desenvolveu, assim, uma visão focal, tipo “túnel”. Já a mulher precisava de um raio de visão que lhe permitisse perceber algum predador se aproximando, uma visão periférica mais ampla. É por isso que o homem moderno consegue facilmente encontrar um caminho mais fácil para chegar em casa, mas tem muita dificuldade em achar qualquer coisa na geladeira ou no armário. Sua visão é focal, não ampla.
E nós mulheres, será que temos algum limite na visão? Os pesquisadores nem precisam ter o trabalho de estudar o caso, nós mesmas já descobrimos, na prática, que nossa visão é bem ampla, mas nada focal. Eu, por exemplo, nunca acho que as panelas caibam todas no armário da pia; organizar a mala, então, é um desafio daqueles. Porém, para meu esposo é uma tarefa superfácil. Ele dá uma olha no espaço e vai como que fazendo uma mágica diante dos meus olhos; em poucos minutos, tudo fica pronto e com espaço de sobra! Diferenças que se completam! Minha razão feminina não sabe explicar, mas minha sensibilidade agradece.
Não consigo imaginar o mundo sem essa parceria entre o homem e a mulher. E isso, ao meu ver, vai muito além da questão de “ser mais ou menos”, “melhor ou pior”, é reconhecer quem realmente somos e procurar viver de acordo com a vocação que recebemos ao sermos criados. Não deixemos que nos roubem o maior tesouro que temos: nossa originalidade!
As mulheres foram criadas para “completar” e não para dividir. Na Carta às Mulheres, o beato João Paulo II já citava isso. Ele faz um agradecimento à mulher que vale a pena ser recordado: “Obrigado a ti, mulher-esposa, que unes irrevogavelmente o teu destino ao de um homem, numa relação de recíproco dom ao serviço da comunhão e da vida. Obrigado a ti, mulher-mãe, que te fazes ventre do ser humano... que te torna o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, que te faz guia dos seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo o caminho da vida. Obrigado a ti, mulher-filha e mulher-irmã, que levas ao núcleo familiar e, depois, à inteira vida social, às riquezas da tua sensibilidade, da tua intuição, da tua generosidade e da tua constância”.
Que a razão de sermos mulheres, segundo os desígnios de Deus, impulsione nossa sensibilidade para levar ao mundo um sinal de esperança e vida. Não tenhamos medo de florir!
Sim! Chega um momento em que é preciso deixar de ser apenas botão, e este momento é agora! Então, desabrocha a rosa e encanta o mundo com sua beleza! Perfuma o jardim em que foi plantada e lembre-se que, sendo quem é, atrairá, a cada amanhecer, os raios do sol que a fará plena e feliz. Viva, hoje, esta aventura e revele ao mundo a autenticidade do seu Criador. É mulher, tem beleza, tem valor!”
Dijanira Silva, missionária da Comunidade Canção
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