No filme Senhor dos Anéis – O retorno do rei. Aragorn diz uma frase que nos deixa impactados: “Não existe triunfo sem perda, não há vitória sem sofrimento, não há liberdade sem sacrifício.”
Olhar de dentro a vida do beato João Paulo II é entrar em uma escola de perdas. Desde pequeno ele sempre aprendeu que o triunfo depende de perdas e, no caso dele, muitas perdas. Com apenas nove anos sua maior perda – a mãe! Foi com ela que, naqueles poucos, mas intensos anos, aprendeu a sensibilidade do coração e a buscar ser íntimo de Deus. Emília – sua mãe – ensinou a Karol os detalhes da vida e do coração de Deus.
Outra grande perda para Karol, depois de três anos, quando ele estava com doze anos, foi a perda do irmão Edmund. Eles eram tão amigos que foi com o irmão mais velho que Karol viveu as mais profundas aventuras no monte Tatras, aonde os dois juntos iam várias vezes escalar. Era uma paixão e uma forma dos laços serem fortalecidos. Mas Edmund não apresentou para Karol somente as montanhas a serem escaladas, mas os corações dos mais necessitados que precisassem ser visitados. Edmund era médico e fazia da profissão uma oportunidade de viver concretamente o evangelho, tanto que morreu por causa dessa grande causa – o outro. Edmund morreu de escarlatina, adquirida justamente pelo trabalho realizado com os pobres.
Olhando para a vida de Karol, podemos até lembrar o filme A Vida é Bela, que tem como cenário os anos de 1940. Guido (Roberto Benigni) é levado para um campo de concentração nazista e tem que usar sua imaginação para fazer seu pequeno filho acreditar que estão participando de uma grande brincadeira, com o intuito de protegê-lo do terror e da violência que os cercam e que no final vai dar tudo certo. Porém Karol foi o filho que não foi protegido das violências das perdas e mortes, mas o filho que teve um pai que soube ensiná-lo que a morte não tem a última palavra, instaurando no coração daquela criança a esperança que vence todo medo.
É-nos permitido, como lhe disse, escutar João Paulo II, e ele mesmo diz como soube fazer de um caminho de perdas um caminho de encontros:
Assim, tornei-me relativamente cedo órfão de mãe e de meu irmão único. Meu pai foi admirável, e quase todas as recordações de infância e adolescência tem em minha mente a presença dele. A violência dos golpes que o feriram abrira nele imensas profundezas espirituais, sua mágoa se tornava oração. O simples fato de vê-lo ajoelhar-se teve uma decisiva influência sobre meus anos de jovem. Ele era tão exigente em relação a si mesmo que não tinha nenhuma necessidade de mostrar-se exigente em face dos filhos: o exemplo bastava para ensinar a disciplina e o senso do dever. Era um ser excepcional. Morreu quase de repente durante a guerra, sob a ocupação nazista. Eu tinha vinte e um anos.
Uma vida de perdas, mas quanto ganho em seu ser gente. O ambiente de guerra tirou a vida de muitos amigos de Karol, muitos judeus que ele defendia com coragem.
Diante de uma vida assim, nosso coração fica até apertado e nos faz pensar que a única resposta é um fechar do coração, um ignorar a presença do amor tanto de Deus quanto do homem. Uma vida que terá como consequência uma revolta contra tudo e todos.
Mas não foi assim que o coração de João Paulo II viveu a vida. Se tudo concorria para uma tragédia de vida, a palavra de Deus – “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” – se tornou fato em sua vida. Ao invés do fechamento do coração, houve na verdade um dilatar do mesmo. Soube ver em cada homem que aparecia em seu caminho um irmão, uma irmã, um pai e uma mãe. Sua nova família passou a ser formada pelos amigos de juventude, a galera dos acampamentos, depois, muito rapidamente, pelos colegas de seminário, os paroquianos, os outros padres, os seus irmãos bispos, os fiéis da diocese e do mundo inteiro. Em todos os lugares aos quais sentia ter sido enviado pelo Senhor em missão encontrou uma substituição da sua família de origem, conseguindo estabelecer uma relação íntima com todos. Fazia de cada nação sua nação, seu país. Ao beijar o chão de cada país que visitava demonstrava que o afeto o fazia cidadão dali.
Uma vez, quando ainda era um padre de Cracóvia, João Paulo II tinha marcado de fazer uma excursão com um grupo de jovens ao monte Tatra. Eram três rapazes e três moças. Estava tudo certo para saírem cedinho e viajar naquela grande aventura, porém apareceu um imprevisto e os três rapazes não poderiam mais participar da excursão. O que fazer? Não pegaria nada bem um padre viajar sozinho com três jovens. Na hora, o mais prudente seria cancelar, não é?
Porém João Paulo sabia que o coração porta a verdade da alma e que a transparência e o respeito que demonstrava com todos o permitia ir tranquilamente naquela excursão. E assim disse às meninas: “Vamos na mesma”.
Interessante é que as meninas perguntaram para ele se poderiam chamá-lo de padre ali naquele vagão de trem, pois tinham receio de haver más interpretações e tal. João Paulo II disse: “Chamem-me de tio”. Até porque ele estava com roupas de um legítimo desbravador de montanhas. A partir daquele momento pegou… E Karol se tornou o “tio” de uma geração de jovens.
Um tio que nos acompanha ainda hoje e que tinha tudo para ter a pior imagem do que é ser homem, já que o mundo, a história e os fatos poderiam desfigurar seu coração. Mas no “tio” a graça de Deus fez revolução e ele pôde dar outra resposta. Soube dizer para a vida que “Cristo revela o homem ao homem” e que a verdadeira doação é fazer de si um presente.
As dificuldades da vida não tiveram a força de lhe tirar a esperança, pelo contrário, fez vir à tona a força de um legítimo filho de Deus, que não o deixou parado com os braços cruzados no canto da parede chorando o leite derramado, mas sim o colocou de pé para levantar muitos que estavam caídos e fadados ao fracasso absoluto, e o fez abrir o limiar da esperança, dizendo a todos: “Não tenhais medo! Abri antes, ou melhor, escancarai as portas a Cristo! Não tenhais medo! Cristo sabe bem ‘o que está dentro do homem’”. Somente Ele o sabe!
Olhar para a infância e juventude de João Paulo II é ter a disposição de perder, ter noção das perdas, mas não parar nelas. Não permitir que elas por mais que sejam grandes e fortes ditem nosso presente e futuro. Vamos abrir o coração, escancará-lo a Cristo e deixá-lo moldar a sua maneira.
Depois de um itinerário bacana no livro, cada página nos convidou ao Amor Maior, mas quantas perdas precisamos viver para experimentá-lo, não é verdade?
Chegar neste ponto do livro e encontrar a historia de João Paulo II nos dá o segredo para viver bem cada perda e transformá-la em um grande ganho de uma vida de valer a pena. Se sua história tem a ausência de um pai, mãe ou irmão e isto te causa dor e sofrimento, se acalme o Amor Maior te sustenta e abre a possibilidade de felicidade. Mas não tenho receio de dizer que você nasceu para ser feliz e pode e dará certo se deixar Cristo ser seu maior amor. Não cruze os braços no que deu errado, deixe as possibilidades de Deus se instaurar em sua vida! A vida de João Paulo II nos diz: “É possível”.
Fonte: Blog Revolução Jesus
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Escreva sua mensagem aqui!!!