Talvez nos inquiete o coração quando ouvimos Jesus dizendo no Evangelho ao jovem rico, e a tantos outros, palavras como “vende o que tens e segue-me”. Ficamos imaginando como deviam ser fortes essas palavras e falamos para nós mesmos que, com certeza, se fossem para nós, o seguiríamos sem dúvida nenhuma. O próprio Cristo nos chamando a segui-lo... Mas sentimo-nos aliviados por pensar que esse chamado não é mais para nós, Cristo não chama mais desta forma. Será?
Mais que nunca urge em nós o apelo de sermos uma Igreja missionária. Deus suscita no coração de muitos a inquietação de partimos em missão, de deixarmos tudo e seguir a Cristo.
“Mestre onde moras?”. A inquietação do homem do Evangelho é também a nossa. Pensamos que o homem está insensível a Deus, ao transcendente, mas pelo contrário, o homem está cada vez mais desejoso de encontrar-se com a Verdade e a busca de várias formas e em vários lugares. Estamos, entretanto, cansados de meias verdades, de apelos moralistas, ou de lugares que nos oferecem vida melhor, mas que longe de nos realizarem só aumentam o desejo de algo mais, como uma sede e fome insaciável.
O chamado divino àqueles que Ele escolheu não deve ser visto nunca como um peso, ao contrário, como uma grande graça, pois o próprio Deus quer que sejamos próximos, amigos, conhecedores da sua verdade, Ele que por amor, quer fazer-nos plenos.
A resposta de Cristo a essa sede insaciável é o “vinde e vede”. Cristo nos chama a sabermos onde ele mora. Ele mora no coração do homem que, amargo, espera a paz, no coração do jovem que em busca da felicidade é flagelado pelas drogas, das famílias que fechadas à vida, esperam uma vida melhor e de muitos que, isolados, caem na depressão ou no suicídio por não encontrarem sentido em sua vida. Na missão mora o Cristo, pobre, casto e obediente e lá, esquecendo-nos de nós mesmos e dando a nossa vida pelo Outro e pelos outros, encontraremos o próprio Cristo e a felicidade.
Não adianta medirmos perdas e ganhos. Nossa vida merece ser gasta em algo nobre e verdadeiro. Quanto tempo e qualidade de vida perdemos em coisas que passam. Precisamos empregar o melhor de nós naquilo que é digno, naquilo que merece a dedicação de nossa vida e que é eterno.
Gostaria ainda de elencar dois pontos importantes para a vida missionária:
O primeiro pronto é a experiência. A missão é uma resposta de gratidão. O coração é tocado por Deus e inflamado por seu amor de tal forma que não há limites para o dar-se. Só quem teve uma experiência com o Amor de Deus é capaz de deixar tudo, suas comodidades, e planos e aderir de forma incondicional aos planos de Deus. Onde não há uma experiência de ouvir a voz que chama, não há resposta.
O segundo ponto é a renúncia. Toda escolha por algo implica uma renúncia. O mérito desta é que só se abre mão de coisas caras para nós, quando encontramos o tesouro mais precioso. De fato, quando descobrimos a vida de Cristo, o seu amor, a eternidade, somos capazes de abrir mão de todos os “tesouros” que temos para comprar aquele que ofusca o brilho de todos os outros.
Toda essa renúncia que brota da experiência não é vã, pois “onde há oferta há fogo!”, é o que costuma dizer o fundador da Comunidade Católica Shalom, Moysés Azevedo. Os frutos da oferta são abundantes, a começar pela própria vida de intimidade com o Senhor, a vida no Espírito, a maturidade humana, o crescimento nas virtudes, a descentralização de si mesmo, a pobreza de estar nas mãos de Deus, a humildade, etc.
Que o Senhor nos dê a graça de encontramos o precioso tesouro que Ele tem para nós.
por Franco Michel
Missionário e seminarista da comunidade de vida Shalom
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