31º Domingo do Tempo Comum - A
Olá amigos Sentinelas da Manhã! Após duas semanas em que não pude, por motivos de saúde e de viagem, preparar este Papo de Domingo, retorno hoje com uma tarefa um pouco amarga... É!!! O Evangelho nem sempre é adocicado e Nosso Senhor, manso e humilde de coração, também sabe ser duro quando necessário, especialmente no tocante àqueles que são responsáveis pela condução de seu povo... Hoje Jesus exorta aos fariseus e doutores da lei... Mas sua exortação serve para todos nós, especialmente os que exercem cargos de liderança em sua Igreja.
O Farisaísmo
Os fariseus eram um grupo bastante importante para o judaísmo do tempo de Jesus. Eles surgiram logo após o Exílio da Babilônia, quando o povo de Deus, ansiava pelo retorno do Messias a fim de que restaurasse a soberania de Israel e lhe devolvesse o antigo brilho dos tempos de Davi e de Salomão. O grupo dos fariseus considerava ser necessário a prática fiel de todas as leis e costumes do judaísmo, a fim de que Deus pudesse enviar o seu Messias. Alguns chegavam a dizer que, se o Povo de Deus cumprisse a lei por no mínimo dois sábados, o Messias apareceria a Israel.
Isto não seria problema se as leis e costumes criados pelo Povo de Israel fossem simples... Não eram. As normas versavam sobre todos os aspectos da vida, e era praticamente impossível cumpri-las todas. Além disso, todas as leis eram tidas como sumamente importantes. Isso significava que, segundo a concepção farisaica, a mínima transgressão de um pequeno costume que fosse, implicava no castigo divino de todo o povo, que deveria aguardar por mais tempo a vinda do Messias.
Muitas pessoas não conseguiam cumprir essas normas, ou por impedimento de ofício, ou porque não se sentiam capazes de fazê-lo. Os pastores, por exemplo, não conseguiam cumprir a lei do sábado. Muitas viúvas, por não terem como se manter, eram obrigadas à prostituição. Os cobradores de impostos também eram tidos como pecadores inveterados. Estes e outros grupos de pessoas que não conseguiam cumprir a Lei eram excluídos do convívio social. A exigência quase doentia dos fariseus gerava angústia, exclusão, sofrimento e dor em muitas pessoas.
Para complicar as coisas, alguns fariseus conseguiam encontrar brechas na lei para burlá-la a seu favor, causando enormes injustiças. Por exemplo, havia uma lei orientando os filhos a sustentar os pais na velhice. Algo óbvio e sensato. Porém, segundo interpretações farisaicas, se o filho fizesse doação ao Templo, ficava isento dessa obrigação. Muitos idosos morriam às mínguas sem uma ajuda sequer de seus filhos.
Mas o Messias veio assim mesmo...
O Farisaísmo não percebeu o óbvio: Deus deseja muito mais do que o mero cumprimento de um conjunto de normas e regras. Deus deseja a justiça em todos os aspectos da vida humana. Por esse motivo, o Messias não esperou que o povo cumprisse todas as normas e regras da Lei... Ele veio para os pecadores mesmo.
Jesus subverteu toda a lógica farisaica e, ao invés de exigir a conversão dos pecadores para somente então se aproximar deles, foi ao encontro dos mesmos enquanto ainda estavam em pecado. Enquanto o farisaísmo passava a impressão de que Deus era um exigente juiz, Jesus revelou que Deus apostava na capacidade humana de sempre ser melhor, independente se esta pessoa estava longe ou perto do ideal. A prática de Jesus revelou que o amor, a misericórdia e a confiança dão mais resultado do que a cobrança, a exigência e a punição.
Jesus denunciou a prática farisaica, chamando-a de hipócrita. Hipocrisia significa julgar o outro como sendo inferior a si. Hipócrita é aquele que utiliza critérios baixos para selecionar as pessoas, condená-las, rotulá-las. O hipócrita não consegue perceber-se fraco. Considera-se totalmente fiel a Deus e, por isso, pode condenar os demais e desprezá-los, afinal, Deus está do lado dele. O hipócrita acha que Deus tem a obrigação de estar com ele porque ele julga estar com Deus e fazer exatamente o que Deus lhe pede. Jesus condenou esta prática, recusando-se a julgar os pecadores. Ao contrário, Ele juntou a adúltera do chão, entrou na casa de Zaqueu, aceitou que uma mulher de má fama lhe ungisse os pés com as lágrimas, acolheu o beijo de Judas, perdoou o ladrão arrependido. A atitude de Jesus revela postura diametralmente oposta à conduta farisaica – e esta é a postura de Deus.
Além disso, Jesus renovou a lei e lhe deu um sentido: o amor. Jesus revelou que há uma hierarquia nas normas dadas por Deus para a nossa vida. E a primeira delas, que subjuga todas as outras, é o mandamento do amor. Não há nada mais importante do que amar. Se amarmos a Deus e ao nosso próximo, cumpriremos toda a lei e viveremos exatamente aquilo que Deus deseja.
O risco do cristão...
Nós, cristãos, corremos o mesmo risco do farisaísmo. Não é raro encontrarmos “seguidores” de Jesus que assumem posturas legalistas. Acham que por cumprir uma série de normas da moral cristã estão de acordo com Deus e por isso podem viver tranquilas. Será que alguém, por melhor que seja, por mais que viva todas as normas da moral cristã, pode se colocar no direito de dizer que Deus está do lado dela, contra os pecadores?
Outra pergunta interessante: algum de nós consegue amar na mesma profundidade que nosso Deus Amor nos amou em Jesus Cristo? Porque essa é a moral do cristão – o amor aos moldes de Jesus! Nós amamos de modo limitado e por mais que nos esforcemos, jamais poderemos agir como Deus, porque Ele é o Senhor, nós, servos inúteis, que não fazemos nada mais do que deveríamos ter feito. Portanto, nada e ninguém têm o direito de se arvorar como o “dono de Deus”, condenado seus opositores. Repito: ninguém.
Também não é incomum encontrarmos “cristãos” que acham que não podem conviver com este ou aquele “tipo” de pessoa. Não é raro correntes “católicas” que se sentem no direito de julgar os próprios irmãos, colocando-se em um lugar que nem mesmo Deus, na pessoa de Jesus Nosso Senhor, quis para si. Pessoas que condenam movimentos e pastorais, julgam posturas eclesiais, acham que porque usam este ou aquele tipo de roupa, ou praticam esta ou aquela forma de piedade, ou porque fazem esta ou aquela opção social, podem excomungar todo o resto dos fiéis católicos. Estas e outras correntes excluem pessoas que nem sempre conseguem cumprir os ideais de seu grupo. Acham-se donos da moral, donos de Deus, considerando-se os únicos verdadeiramente fiéis ao Evangelho. E, em nome de suas posturas, excluem pessoas que não conseguem viver na integralidade seus ideais.
Irmãos! Jamais direi que não precisamos de normas, e que a moral não é importante. Ela é sim! Ela nos dá parâmetros e nos ajuda a viver o mandamento do amor. Não podemos questionar nossa moral! Mas não temos o direito de excluir pessoas porque elas não conseguem vivê-la! O que nos impede de convivermos com pessoas pecadoras? Elas não vivem nossas normas, mas não podem ser privadas do nosso amor. Aliás, todos nós fomos amados enquanto ainda éramos pecadores. Portanto, não podemos deixar de amar, se quisermos cumprir à risca a lei do Senhor. O amor é o cumprimento perfeito de toda a lei, de toda moral, de toda doutrina.
Mesa dos pecadores
A Eucaristia é a mesa dos pecadores reconciliados. Jesus a instituiu enquanto Judas estava prestes a traí-lo e Pedro estava a negá-lo. Deus não deixa de estar conosco mesmo quando somos pecadores. Ele se faz pão da vida, remédio que nos salva. Somos imperfeitos, porque somente Deus é perfeito. E a Igreja foi feita para nós. Jesus veio para os pecadores... Se quisermos que Ele esteja conosco, precisaremos reconhecer nossa imperfeição. Encerro com uma canção do Pe. Zezinho, gravada pelo Pe. Fábio de Melo. Meditemos sobre essa linda inspiração do Espírito:
Assista o Vídeo e ouça a canção
CANÇÃO DOS IMPERFEITOS
E se for pra semear a esperança num jardim
E se for pra desculpar uma criança eu digo sim
E se for pra perdoar não tenho escolha
Também sou pecador, também preciso de perdão
Não sou santo nem sou anjo e nem demônio eu sou só eu
Imperfeito, insatisfeito, mas feliz, aqui vou eu
Eu sou contradição, eu sou imperfeição, só deus é coerente
Já sorri, já fiz feliz, já promovi, já elevei
Já chorei. já fiz chorar, já me excedi, já magoei
Eu tenho coração mas sou contradição só deus acerta sempre
Por isso eu canto esta canção, canção de amor arrependido
Ao deus que é pai, ao deus que é paz, ao deus que é luz, ao deus que é vida
Pois quando a gente cai deus age como pai Perdoa, perdoa
E torna a perdoar e ensina como amar
Eu sou contradição eu sou imperfeição, mas deus, ele é perdão.
Composição: Pe. Zezinho, scj
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