sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Como conversar com protestantes fundamentalistas?

Provavelmente isto já ocorreu com você. Alguém bate a porta, quando você abre, há uma pessoa simpática, com um grande sorriso, uma Bíblia aberta, e um arsenal de questões com o objetivo de atacar, sutilmente, a doutrina da Igreja Católica. Ou você, passando pelo centro de sua cidade, foi parado por alguém que lhe perguntou: "você está salvo?", ou ainda, ao sair da Missa, encontrou pessoas que distribuíam panfletos opondo crenças católicas e debatendo com as pessoas.

Se você entrar na discussão, parece que não vai a lugar algum. Você termina frustrado, parecendo que ninguém se convenceu do que você disse. As outras pessoas continuam andando, aparentemente com mais dúvidas sobre o catolicismo do que antes. Você sabe que não foi muito bem nesse episódio.

O importante é que saber como debater é tão importante como saber sobre o quê debater. Se não dispuser de alguma técnica especial, todo o conhecimento do mundo não adiantará nada no seu diálogo. Se você for um dicionário de teologia ambulante, mas se não souber como manejar uma boa discussão, você está perdendo o seu tempo. Também não é suficiente apenas ter uma boa conversa. Isto não disfarça a ignorância histórica ou doutrinal. Para ser um bom apologista, você precisa de dedicação e de conteúdo.

Escritura e oração
Conheça a Bíblia. Não importa o quanto você esteja bem preparado, não importa o quanto você acha que conhece as doutrinas da Igreja. Você precisa conhecer a Bíblia para enfrentar os fundamentalistas (claro, você tem necessidade da palavra de Deus não somente para debater com os protestantes).

Concentre-se no Novo Testamento, sem desconsiderar o Antigo. Não há necessidade de decorar vários versículos bíblicos como fazem os fundamentalistas, mas você precisa adquirir um conhecimento geral de toda a Bíblia. Você precisa se familiarizar, principalmente, com os Evangelhos ? se você não conhece a história de Jesus Cristo, você está em apuros. Frank Sheed diz o seguinte: "o apologista católico que não mergulha nos Evangelhos é a própria anomalia, e seu trabalho está condenado à aridez".

Os Evangelhos são curtos o suficiente para serem lidos em uma semana. Leia-os várias vezes antes de iniciar qualquer coisa ? e continue lendo-os regularmente. Não deixe de ler os demais livros da Bíblia (muitos fundamentalistas fazem isso, e perdem-se no contexto da Escritura), mas eles devem ser a base para as demais leituras.

Tenha, também, uma vida de oração. Uma boa forma de fazer isso é a leitura meditativa sobre a Bíblia. Leia devagar, sente-se, pense.

A oração é essencial na conquista de convertidos. Em seu coração, reze antes de um debate, durante e após ele. É importante saber o nome da pessoa com que se está debatendo, para que você possa orar por ele também. É natural para o homem medir o sucesso em uma discussão pelo quanto o outro mudou de idéia. Mas, na realidade, "as maiores coisas da terra são feitas dentro do coração de pessoas de fé" (São Luis de Montfort).

Técnica
Em debates, nunca tenha receio de reconhecer sua ignorância. Se você não souber como responder a algo, diga. Você sobreviverá, e também o seu ego. As respostas que você der sobre outros assuntos serão levadas mais a sério se as pessoas com quem você conversar virem que você não está tentando os enganar durante o debate (pena que muitos protestantes não saber perceber isso).

Entretanto, não deixe perguntas sem resposta. Diga à pessoa que esta questão é muito bem formulada, e que você estará lhe respondendo em uma semana. Então vá estudar e traga as respostas que você prometeu. Este método é mais eficaz que dar de ombros e dar qualquer resposta que nem a você convenceria.

Você tem de ser inteiramente honesto. Nunca torne as doutrinas maiores ou menores do que elas realmente são. Não evite casos difíceis, e não suavize doutrinas somente para agradar seus oponentes. Não há necessidade de reduzir a dificuldade de verdades difíceis. Fale sobre as doutrinas como elas verdadeiramente são. Se você somente consegue dar uma pequena explicação sobre a Real Presença, você não está preparado o suficiente para defendê-la. Admitir isso (ao menos para você mesmo), então faça seu trabalho. Um embaraço hoje pode ser o motivo para você se tornar um melhor apologista no futuro. Quando questionado sobre a história da Igreja, não deixe de conhecê-la. Não esconda fatos, não seja falso. Não há necessidade disto. Coloque as coisas todas no contexto, e relembre que a Bíblia ensina que, enquanto a Igreja jamais poderá ser derrotada pelo mal (Mt 16,18), seus membros incluem tanto santos quanto pecadores (At 20,29).

Cuidado com a língua
Sarcasmo nunca é bom. Evite-o, mesmo quando o seu oponente se baseia nele. Quando fazem isso, suas consciências lhes seguirão mais tarde (se a tiverem). Não lhes dê justificativa para tal por rebater sarcasmos com outros.

Lembrar que Deus resiste aos orgulhosos: "Não convém a um servo do Senhor altercar; bem ao contrário, seja ele condescendente com todos, capaz de ensinar, paciente em suportar os males. É com brandura que deve corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da verdade" (2Tm 2,24-25).

Familiarize-se com literatura anti-católica. Leia quais são os principais tópicos: a Bíblia como única regra de fé, a justificação somente pela fé, a Missa, a oração à Maria e aos santos, e outros mais. Veja como os argumentos, sejam fracos como sejam, são manuseados. Você perceberá que os materiais anti-católicos não são acurados, mas se você não souber respondê-los, tome notas e estude.

Quando argumentar, seja modesto em suas expectativas. Não espero conversões imediatas; elas não são processos do dia para noite (ao menos as verdadeiras). Saiba de seu sucesso quando seu oponente reconhece que houve uma resposta católica plausível para cara ponto abordado (mesmo que ele não as aceite). Será uma vitória apenas em saber que um anti-católico repensou seus conceitos.

Evite termos técnicos. Mesmo católicos não entendem o que é a "transubstanciação", "imaculada conceição", "mediatrix" e "mérito". Por outro lado, não seja monossilábico. Simplificar é reduzir o valor de pontos importantes; o que é igualmente ruim. Tente falar sobre as doutrinas em linguagem compreensível aos seus oponentes. Mas não reduza a dificuldade nem o valor das doutrinas apenas para ser simpático ao oponente ou ao ouvinte/leitor.

Tente colocar uma doutrina e suas relações com outras. É importante ver a Igreja como um todo.

Evite citações de versos. Isto pouco ajuda. Você precisa possuir alguma perspectiva ? e também os seus oponentes. Comece o debate com um plano traçado, saiba quais serão os pontos principais e leve-os adiante.

O tópico mais importante para se debater é sobre a autoridade: porque você acredita, e porque eu acreditaria em você? Havendo milhares de denominações protestantes, todos proclamando-se a verdadeira representação do cristianismo e a total assistência do Espírito Santo, porque a sua igreja ou o seu pastor são diferentes?

Os fundamentalistas confiam em algumas passagens que acreditam derrubar o catolicismo. Tome a iniciativa. Não os deixe fazer todas as perguntas. Pergunte também, e aborde diretamente as fraquezas do protestantismo.

Explique o que puder
Não debata para vencer. Você pode "vencer", ainda que leve pessoas para fora da Igreja. Debata para explicar. Mostre aos fundamentalistas a doutrina católica como ela é, e não como eles pensam que é. Quer dizer, reorientá-los, dar uma nova chance de rever seus conceitos. Lembre que eles crêem firmemente retirar todas as suas doutrinas da Bíblia. Na verdade a Bíblia é usada para dar razão a doutrinas pré-formuladas. Possuem suas próprias "tradições", que é a interpretação bíblica do seu pastor ou fundador (para muitos fundamentalistas, seu pastor é o seu papa. Muitos, quando questionados sobre pontos difíceis, não recorrem à Bíblia para descobrir as respostas, mas dizem "vamos perguntar ao pastor").

Não importa quantos versos memorizam, os fundamentalistas tomam a Bíblia de forma seletiva. Conhecem pouco sobre história da Igreja, e poucos são doutos em teologia. Muitos não sabem o que é um catecismo (talvez nem saibam que isso existe). Você deve demonstrar uma visão ampla. Se o assunto é interpretação, tome um bom comentário e estude, mas também tome os Padres da Igreja e leia o que eles entenderam e ensinaram sobre o assunto.

Diga aos seus oponentes que você faz isto porque seria incoerente que as pessoas que escreveram quando a Igreja era jovem e as memórias de Cristo estavam ainda ressoando na memória, reportaram doutrinas erradas e heréticas. Se os primeiros cristãos garantiram que um sacerdócio ministerial foi estabelecido por Cristo (que na verdade fez), este fato é um argumento forte para o sacerdócio na nova aliança. Se os escritores de alguns anos após Cristo mencionaram a Real Presença (que na verdade fizeram), isto fala a favor da interpretação católica de João 6. E assim por diante.

Não confunda termos
Conheça os termos usados pelos fundamentalistas. Você pode perder muito tempo discutindo dois assuntos diferentes usando a mesma terminologia. Por exemplo, vejamos o termo fé. Para os católicos, o termo significa aceitar uma verdade revelada (doutrina) apenas pela Palavra de Deus. Isto significa fé teológica ou confessional. Mas para os fundamentalistas, fé é confiar nas promessas de Cristo. Esta é a fé ?fiducial?.

Tradição é um outro termo confuso, assim como inspiração e infalibilidade. Veja o que os fundamentalistas entendem sobre estes termos e compare-os com a definição católica. Se você não definir os termos, os protestantes não vão entender seus argumentos. Não vá pensando que tudo o que parece na verdade é. Descubra o que seus oponentes estão querendo dizer. Tenha paciência.

Os fundamentalistas costumam dizer: "iniciaremos o debate admitindo que a Bíblia é a única regra de fé do cristão". Na verdade significa dizer: "vamos admitir que a Igreja não possui autoridade alguma; todas as respostas para questões de fé são claramente encontradas na Bíblia". Não concorde com isso. Não é verdade. Em resposta, pergunte ao seu oponente: "onde a Bíblia diz que ela deve ser tomada como única regra de fé?". A Bíblia silencia quanto a isso. Na verdade ela nega esta doutrina (cf. 1 Cor. 11:2, 2 Ts. 2:15, 2 Tm. 2:2, 2 Pd. 1:20, 3:15-16), mas você deve conhecer os versos para citar sua prova.

Discuta sobre a história da Bíblia. É preciso deixar claro que foi a Igreja quem formou a Bíblia, não o contrário. A Bíblia não apareceu pronta. Note, também, que o Novo Testamento não é um catecismo. Não foi escrito para pessoas que já eram cristãs, por isso não se pode pretender ser considerada única fonte de ensino religioso. Nos tempos primitivos, o ensino era oral e protegido pela autoridade da Igreja, que também decidiu quais os livros que deveriam constar na Bíblia, e quais os que não deveriam.

Alguns erros
O bispo Fulton Sheen certa vez escreveu que poucas pessoas odeiam a Igreja Católica, mas milhões de pessoas odeiam o que eles acham ser a Igreja Católica. Você precisa mostrar aos fundamentalistas o que a Igreja de fato é.

Discuta um tópico por vez; devagar; aborde-o de vários ângulos, e não deixe a discussão desviar para outros assuntos, senão você se perderá na argumentação e seu esforço não adiantará nada. Não pense que os protestantes sabem o que você entende mesmo sobre pontos simples, como missa, alma e revelação. Se eles sabem, provavelmente não sabem o que a Igreja ensina sobre estes termos. Você deve falar com eles da forma como falaria sobre o catolicismo para um católico não evangelizado.

Lembrar que o conhecimento deles sobre a doutrina da Igreja é baseada principalmente no que ouvem nos cultos ou o que lêem em um livro ou dois, não-católicos. Debatem com boas intenções, mas são desinformados. Mas a culpa não é só deles. Eles confiam nas fontes que possuem, mas agora devem aprender que há mais a considerar.

Lembrar, também, que a fé é um dom. Muitos convertidos ao catolicismo dizem que a doutrina foi um fator importante para a conversão, mas também a evidência de ver católicos que vivem suas vidas de acordo com a fé que professam. "Portanto, não temais as suas ameaças e não vos turbeis. Antes santificai em vossos corações Cristo, o Senhor. Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito" (1Pd 3,15).

Traduzido para o Veritatis Splendor por Rondinelly Ribeiro.
www.veritatis.com.br

Um comentário:

  1. O melhor é não conversar com eles. Se for inevitável, de fato é melhor estar preparado para as armadilhas. Se for por caridade, já que temos por obrigação mostrar-lhe a verdade que lhes é ocultada por falsos profetas, é bom se que tenha em mente que o protestante desconhece os fundamentos da fé católica, o que em via de regra lhe remete ao erro. Ele parte do princípio de que a Bíblia é a única regra de fé e assim não compreende que não estamos obrigados ao mesmo princípio já que não somos seguidores de Lutero. Acaba ingenuamente acreditando que não lemos a Bíblia nos últimos 2.000 anos, mesmo sabendo que temos teólogos, sacerdotes e mais de 200 papas. Fundamental é iniciar qualquer debate esclarecendo-lhes de que a Bíblia não é única regra de fé. É uma malandragem dos falsos mestres que você só nota depois de alguem tempo. Esta foi uma das razões porque deixei o protestantismo. Um dia me perguntei: "Onde está escrito na Bíblia que a Bíblia é a única regra de fé ?" Onde está na Bíblia que a Bíblia protestante é a Bíblia correta ? Onde está na Bíblia que Lutero poderia retirar livros da Bíblia Católica ? Quem produziu a Bíblia original ? Ninguém se pergunta sobre isto no meio protestante. Simplesmente parte-se da premissa que a Bíblia protestante encadernada caiu do céu ou foi entregue por Jesus e então todos estão obrigados por ela e nada mais importa. Por isto que eles tem dificuldades em compreender os dogmas católicos e ficam furiosos quando pensam que estão vendo doutrinas que fazem oposição a Bíblia. Temos que compreender que o doutrinamento e lavagem cerebral impostos pelos falsos mestres é algo muito sutil e constante. O pai da mentira é um mestre do disfarce e acaba se utilizando destes comerciantes da fé para afastarem as pessoas da verdadeira fé.Com os protestantes históricos a coisa é mais suave, pois embora discordem de nós, compreendem que não estamos obrigados ao critério criado por eles. Mas não é o caso dos evangélicos e em especial dos seguidores dos prregadores televisivos.

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