sábado, 10 de setembro de 2011

O zelo de um Líder

zelo_lider

Certas palavras e frases evocam imagens mentais que nos ajudam a compreender um determinado conceito. Embora as imagens nos ajudem a compreender, determinados conceitos são difíceis de serem expressos em palavras. Além disso, palavras ou frases evocam diferentes imagens e noções para diferentes indivíduos ou grupo de indivíduos. Por esta razão, gostaria de convidá-los a refletir brevemente sobre o título deste artigo e deixá-lo evocar uma imagem e uma noção básica do que o mesmo significa para você. Este exercício, básico mas importante, é necessário, pois não tenho a intenção de descrever ou de qualquer forma tentar oferecer um modelo ideal de líder zeloso. Peço que você mantenha a sua própria imagem e conceito, já que a imagem ideal, para ser eficaz, deve ser moldada dentro de um ambiente particular. Considero ser o meu papel, neste esforço, ser apenas um trocador de cena. Dando um cenário diferente para a imagem percebida por você, posso ajudá-lo a observar e analisar esta imagem sob uma nova luz.

A fim de trazer um fundo mais claro, preciso separar e discutir brevemente as duas palavras-chave em nosso título, Zelo e Líder. No final, tentarei unir as duas noções para um cenário completamente novo.

Zelo
A palavra em inglês “Zelo” traduz a palavra grega “zelos”, que literalmente significa “calor” ou “chegar a ferver”. Figurativamente, é usada em dois sentidos diferentes: em um sentido positivo, é um grande ardor ou entusiasmo por uma causa, uma pessoa ou um objeto, a que normalmente nos referimos como zelo, e no sentido negativo é o lado mais sombrio da inveja ou ciúme. No Novo Testamento, a palavra “zelos” é, portanto, traduzida tanto como zelo (Jo 2,17; Rm 10,2; 2 Co 7,11) ou como inveja ou ciúme (cf. Rm 13,13; Tg 3,14.16). Etimologicamente, o termo remete a um amplo espectro de emoções fortes que podem variar de uma morte para si mesmo, em um ato de amor, a um espírito assassino de inveja e ódio.

Discutindo zelo em relação ao amor, Tomás de Aquino (ST I-II, Q. 28, a. 4) conclui que o zelo surge a partir da intensidade de amor a um objeto, pessoa ou causa. Isto motiva o “amante” em direção a um objeto com uma força tal que o compele a suportar e eliminar todos os obstáculos que surgem no caminho. A Isso ele chama de amor de concupiscência. Por outro lado, o zelo motivado pelo que ele chama de amor de amizade é estimulado pelo bem do outro, incluindo a força para remover obstáculos que podem prejudicar o bem do outro.

Líder
Sempre fiquei intrigado pelo fato de que na RCC o termo “líder” tem prevalecido. Provavelmente, o termo denota a estrutura solta que caracteriza a nossa realidade, que por sua vez, contribui para a construção de um conceito particular de “líder”. Provavelmente, existem tantas definições de líder como o número de líderes e por esta razão vou tentar manter-me o mais próximo possível da essência de liderança.

O próprio Jesus forneceu o conteúdo desta essência quando Ele disse aos seus discípulos: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35). O serviço é realmente uma excelente marca de liderança, mas Jesus deu ao mesmo um fundamento mais profundo, já que em unidade com o Pai Ele dá a vida pelas suas ovelhas amadas (cf. Jo 10,11-15). Em suma, a liderança cristã é uma peregrinação a partir da morte para si para a vida no Deus trino que se expressa no serviço aos outros.

Antes de ir para o Pai, Jesus garantiu que revelou o melhor de seus discípulos através de ensinamentos, treinamento e finalmente, através da experiência única do batismo no Espírito Santo. Somente assim Ele poderia confiar-lhes a missão de evangelizar o mundo. Desta forma, outra característica essencial da verdadeira liderança é a cerimônia do envio — envio de discípulos maduros e capacitados para o mundo.

Liderando com Zelo
Sintetizar as duas ideias não oferece nenhuma provação grave, uma vez que existe uma base comum: a intensidade do amor. O amor é a essência do Deus Uno e Trino (cf. 1 Jo 4,8.16). O universo inteiro e, especialmente, a economia da salvação refletem a beleza interior não criada de Deus que é amor dinâmico. Poderíamos dizer que zelo é amor em ação, já que o amor é eterno e criativo, movendo-se em novos e desconhecidos territórios e manifestando-se em misericórdia, confiança, esperança e fidelidade.

Na prática, o zelo pode manifestar-se em tarefas como organizar novos eventos, trazer ideias brilhantes, ensinar com paixão e exortar com ardor. Estes são elementos necessários, mas devem ser apenas manifestações exteriores do zelo verdadeiro que é como Cristo em sua natureza. João, o Evangelista, lembrou o Salmo 69: “É que o zelo de vossa casa me consome”, quando Jesus expulsou os vendedores e cambistas do templo (cf. Jo 2,17). O Zelo incorpora um inflamado desejo de compreender a visão de Deus para seu povo e, como Jesus, estar pronto para ser consumido pela causa.

Um líder zeloso é sempre motivado e impelido por uma visão inspirada por Deus que busca o bem e a proteção de todos. Como o zelo coloca o amor em ação, ele edifica a comunidade, mas respeita a diversidade no chamado especial de cada pessoa. Ele nos lança a uma jornada de auto-doação através do serviço humilde para a maior glória de Deus.

Jude Muscat
Extraído de: Boletim do ICCRS - Outubro / dezembro 2010

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