Ao falarmos de Nova Evangelização, é comum que pensemos logo em estratégias para tornar a Boa Nova mais conhecida, em novas metodologias para a transmissão da fé, o que é muito importante. Entretanto, é a pregação sobre a cruz de Cristo o elemento que dá força para a nossa evangelização transformar o mundo.
O capítulo 24 do Evangelho de São Lucas narra o envio missionário de Jesus aos apóstolos antes da Sua ascensão. Nesse envio, Ele une, de forma indissociável, a Sagrada Escritura, o anúncio da Sua morte e ressurreição e a pregação do arrependimento para a remissão dos pecados. E, ainda mais, nesses elementos, Jesus descreve a missão da Igreja e o sentido de Pentecostes: “Disto vós sois testemunhas! Eis que eu vos enviarei o que o meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até serdes revestidos da força do Alto” (Lc 24, 48-49).
Já no livro dos Atos dos Apóstolos, se analisarmos os discursos de Pedro e Paulo, veremos que a centralidade da pregação salvadora e do chamado dos homens ao arrependimento para a remissão dos pecados se apoia nisto: “Vós crucificastes ao autor da vida e a Esse, Deus o constituiu Senhor e Cristo”; “Vós o crucificastes matando-O pela mão dos ímpios!” (cf. Atos 2,36; 2,23; 3,15-19...).
Diante dessa proclamação e da denúncia do pecado, os ouvintes respondem como se tivessem sido transpassados no coração por essas palavras, pelo arrependimento, pela conversão. Não pode existir verdadeira evangelização sem a pregação do Crucificado aos pecadores e sem o apelo ao arrependimento para a remissão dos pecados. E os ouvintes, diante do Juiz a quem eles mataram, devem voltar-se para Deus, abandonando os pecados e afastando-se deste mundo perverso (Cf. Atos 2,40): “Deus agora manda a todos os homens e em toda parte que se arrependam porque Ele fixou um dia no qual julgará o mundo com justiça por meio do homem a quem designou dando-lhe crédito diante de todos, ao ressuscitá-lo dentre os mortos” (Atos 17, 30-31).
Paulo foi consciente de que a mensagem da Cruz levantava oposição e “inimigos” (cf. Fil 3,18ss), tanto dentro da Igreja como fora dela. Mesmo assim, ele se manteve firme na proclamação da Cruz em todo o seu ministério. Para ele, essa proclamação era questão de vida ou morte do Evangelho e da sua eficácia salvadora: “Cristo me enviou para anunciar o Evangelho sem recorrer à sabedoria da linguagem para que não se torne inútil a cruz de Cristo” (I Cor 1, 17). Inútil, nesse texto, significa esvaziada, estéril, inócua: “A fim de que a vossa fé não se baseie sobre a sabedoria dos homens, mas sobre o poder de Deus” (I Cor 2,5). Cristo Crucificado, que é poder e sabedoria de Deus, é fraqueza e blasfêmia para os judeus, é estupidez e loucura para os pagãos.
Para os membros da RCC é conveniente lembrar que, como para Paulo em Gálatas, tanto a adesão à fé, como a experiência do Espírito Santo e dos carismas, têm uma condição que não pode ser removida: “Jesus Cristo Crucificado” (Gal 3, 1-5). A missão não é possível sem o anúncio poderoso da Cruz de Cristo. Ou, falando de outra forma: o acesso à salvação pelo arrependimento para a remissão dos pecados não tem outro caminho senão Cristo Crucificado. O contrário disso é evangelizar no deserto, na areia, na esterilidade pastoral, no cansaço dos evangelizadores ansiosos e desanimados.
Diante do Sínodo da Nova Evangelização que acontecerá em próximo outubro, diante da Porta da Fé, na abertura do Ano da Fé, temos que ter clareza e reafirmar sem vacilações a necessidade da pregação da Cruz de Cristo para não perdermos tempo, não fazermos inúteis estes eventos transcendentais para a Igreja nos próximos meses e anos: “A Igreja, em definitiva, peregrina entre as consolações de Deus e as perseguições do mundo, anunciando a Cruz do Senhor até a sua vinda” (LG, 8).
Como conclusões para a nossa evangelização, hoje, vemos que a pregação da Cruz se dilui e fica esterilizada. Percebe-se um esforço de apresentar de modo formal a salvação de Deus, sem apoiá-la na Cruz. A falta de fecundidade pastoral se deve, sem dúvida, à subtração da Cruz do cenário da evangelização.
Por outra parte, o “arrependimento para a remissão dos pecados”, que deve brotar ao contato com a Cruz, fica falsificado em conversões éticas, voluntaristas, ao invés da autenticidade teologal da comunhão com Cristo Crucificado donde brota a graça da fé, da contrição, da “convicção do pecado” que o Espírito, testemunha de Jesus, comunica necessariamente.
Não poderá haver nova evangelização se, como Paulo, “não nos envergonhamos do evangelho, força de salvação para todo o que crê” (Rom 1,16). Essa força é Cristo Crucificado.
E a vergonha dos inimigos da Cruz de Cristo surge precisamente na hora de pregá-la. Uma evangelização com sinais e carismas não acontecerá, como Paulo nos ensina em Gálatas, se nosso alicerce não for a Cruz de Cristo.
Para terminar, só a evangelização que coloca sua única glória na Cruz está em condições de transformar o mundo. Essa é a nossa vitória!
Dom José Luis Azcona
Bispo da Prelazia do Marajó
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