Por Daniel Machado, missionário da Canção Nova.
Quando, em 1999, eu tive o meu encontro pessoal com Jesus, minha vida mudou de forma drástica, direta, da “noite para o dia”. Num piscar de olhos eu já me considerava uma pessoa diferente, um homem novo. Por outro lado, as pessoas do meu convívio social me alertavam o tempo todo sobre a “loucura” da religião.
Ao assistir a momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento pela TV Canção Nova, era comum minha mãe me pegar ajoelhado ou prostrado diante da TV (na verdade, era diante de Jesus), assim como era comum ela me dizer que eu estava ficando louco por causa dessas atitudes.
Os críticos da religião dizem que os que creem em Deus ou em alguma divindade sofrem algum tipo de patologia coletiva – e se me vissem, do jeito que minha mãe me via, certamente ficariam contentes com a confirmação da teoria. De certa forma, existe uma verdade nesta crítica, pois todos nós sofremos de um tipo de “loucura”, mas eu diria que uma “loucura necessária”. Se quem crê pode ter algum tipo de loucura, os que não creem mergulham numa loucura muito maior, a qual nos traga, a loucura deste mundo.
Estamos diante de duas loucuras: a “loucura” da religião e a loucura do mundo moderno.
A “loucura” da religião tem lá, sim, os seus excessos, o que chamamos de fundamentalismo, ou seja, a fé sem um pingo de razão ou tolerância. Essa loucura precisa de amadurecimento e reflexão, mas, de modo geral, na religião está presente uma “loucura” que nos faz ir para o além do material, que nos remete ao outro, uma “loucura necessária” para os santos.
Lembremo-nos aqui de alguns loucos que deixaram o seu perfume de santidade no mundo: São Francisco foi um “louco” aos olhos de muitos, deixou toda a sua riqueza e foi viver como mendigo, beijou um leproso, certa vez se jogou numa roseira e, outra, na neve quando o desejo sexual atingiu sua carne. Em poucos anos atraiu milhares de jovens ao seu redor. Santa Terezinha também foi uma “louca” que sofreu e amou até o último dia de sua vida e, sem sair do convento, ficou conhecida no mundo inteiro.
Mas temos também os santos modernos, como a beata Madre Teresa de Calcutá, que um dia saiu pelas ruas de Calcutá, encontrou um moribundo na rua e, ali na sua “loucura”, encontrou Jesus nele e passou a dedicar a vida aos mais pobres dos pobres. O beato João Paulo II foi também um “louco”, sobreviveu a duas guerras, estudou num seminário de forma clandestina, enfrentou o comunismo, derrubou o Muro de Berlim, sofreu um atentado, perdoou ao homem que tentou matá-lo, ensinou ao mundo como se vive enfermo sem perder a esperança, a caridade e a fé, dentre tantos outros atos de “loucura”.
Já a neurose do mundo moderno é uma loucura de morte; para constatar isso basta ficar 5 minutos na frente da TV, ver as leis contra a vida e a família que tramitam no Congresso, o ritmo com que vivemos na era do consumo, os índices de estresse e depressão que atingem jovens, adultos e idosos. No dito popular, estamos “pirando” com o estilo de vida moderno.
São Paulo disse que jamais o mundo irá compreender esta loucura da santidade: “Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras” (I Coríntios 2,14). E confirma o que acabo de escrever acima: “Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.”
Se a religião é “o ópio do povo” – como dizem os críticos – qual será a definição para o mundo moderno?
Se um dia você ouvir de alguém que a religião é uma neurose coletiva, agradeça, pois esta “neurose” o está livrando de uma outra neurose muito maior, a loucura da cultura de morte.
“Oxalá suportásseis um pouco de loucura de minha parte!” (São Paulo Apóstolo)
Sejamos todos “loucos” pelo Evangelho.
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