Diácono Nelsinho - A música é um serviço exigente. Quando eu era criança, eu tocava nas cinco Missas, e o padre até brincava que eu seria ordenado sacerdote, porque estava em todas as Celebrações Eucarísticas. Participar da Santa Missa nos forma e nos educa. Quem é do ministério de música, muitas vezes, é muito criticado, mas isso é bom para nossa formação e crescimento.
“O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção; enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade; proclamar um ano de graças da parte do Senhor, e um dia de vingança de nosso Deus; consolar todos os aflitos” (Isaías 61, 1).
Não importa há quanto tempo tenha sido o seu batismo, o importante é que você foi batizado e que recebeu a marca indelével do batismo, a qual nunca mais vai sair de você. Neste Acampamento para Músicos, precisamos assumir esta missão maravilhosa de evangelizar e levar a Palavra de Deus.
Talvez você já tenha visto várias pessoas distraídas na igreja, que, ao começar a música, foram tocadas. Todos os músicos, antes de passar a música, precisam passar o “microfone da Palavra”. A Palavra é o mais importante; o canto deve preparar o nosso coração para acolher a Palavra. Temos esta missão de cantar para curar os corações feridos. Temos a experiência de tocar em vários lugares. Uma irmã de comunidade, ao acompanhar um grupo em Jerusalém, conversou com um rapaz que havia tentado o suicídio e, sem saber o que fazer, disse: “Não faça isso!” e lhe deu o CD “Deus é mais”. Passado um tempo ele me ligou e testemunhou que a minha música tinha salvado a vida dele. Nós precisamos assumir esta consagração que todos nós temos. Precisamos cantar a música na hora certa e não a música que queremos.
Todos nós temos uma história, contudo, existem pessoas que querem apagar a sua história. A carta do Papa Francisco, para as Pessoas Consagradas, fala da importância de voltar na história: “O primeiro objetivo é olhar com gratidão o passado [..]”. O seu ministério é consagrado para servir o povo e a Deus? O primeiro objetivo é olhar com gratidão o passado. “Repassar a própria história é indispensável para manter viva a identidade”. Nesta frase da referida carta o Santo Padre enfatiza o ato de valorizarmos a nossa história.
Temos que fazer de tudo para evangelizar. Monsenhor Jonas, quando era criança, pediu a Deus: “Senhor, se for útil ao meu ministério, dai-me o dom da música”. Imagine, nos anos 80, quando começaram os “rebanhões”, época em que os retiros de carnaval eram retiros de silêncio, o padre Jonas teve ideia de fazer os encontros em uma quadra. Na época foi até um “escândalo” para muitos, porque eram ritmos diferentes, o mais importante não era a música, mas a eficácia da Palavra. Padre Jonas sabia que a música era um pretexto para atrair os jovens e levar a Palavra.
O Papa Francisco afirma que precisamos recordar nossa história. “Narrar a própria história é agradecer e retomar a unção”. Eu olho para nossa história, quando o padre Jonas era a “banda”: ele e o violão. Eu ficava impressionado ao ver aquele padre fazendo tudo. Ele nos motivava. O meu pai era músico, um seresteiro. Na minha casa sempre havia serestas. Tocavam acordeão, violino e violão de sete cordas.
Cada um precisa ver a sua veia musical. Como entrou a música na sua vida? É preciso repassar a sua história, uma coisa que é eficaz na evangelização é o seu testemunho pessoal. Este encontro nos faz voltar à nossa história, voltar ao primeiro amor. O dinheiro não compra paz, quando o meu pai faleceu eu pensei: “Como é bom ter fé!”. Por mais difícil que seja o seu ministério, tenha fé e valorize a sua história. O padre Jonas sempre confiou nos jovens e, por ter sempre o ouvido apuradíssimo, qualquer nota fora, ele já falava sobre isso, mas sempre com alegria, a alegria é a maior característica do consagrado. Precisamos dar o testemunho da alegria. Ser quem você é e não querer ser um artista apenas por sê-lo, mas valorizar a sua história. Todos nós temos dificuldades nas famílias. Valorize o seu sangue, a sua família, porque é aí que está o seu “DNA de músico”.
Dunga – Eu estou aqui graças a esta “peça rara”, que é o diácono Nelsinho. Em 1993, eu me converti ouvindo o diácono cantando e o padre Jonas Abib pregando. Eu quis cantar na igreja porque eu o ouvi cantando. O tema deste acampamento é maravilhoso: “Voltai ao primeiro Amor”. Estou casado há 20 anos, e sempre fazemos memória da nossa história. Nós voltamos ao primeiro amor sempre, e fazemos isso ao reconhecer a nossa origem.
“Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós” (Col 3,12-13).
Nós precisamos ser suportes uns para os outros. Claro que temos queixas uns contra os outros. Não temos como entender por que Deus quis a gente! Nós não temos defeitos, mas sim limites. Os nossos limites devem nos ajudar a ampliar o raio de ação. Nós sabemos quais são os nossos limites e precisamos ser agradecidos a Deus por ter nos chamado para este ministério tão lindo.
Compor e gravar uma canção é evangelização. A música é como uma anestesia em uma cirurgia muito grave. Sem o anestesista não tem cirurgia; sem música não tem “cirurgia”. Pode existir o melhor pregador do mundo num evento, mas sem o músico não acontece nada, pois este prepara o coração do povo de Deus para acolher a Palavra. Para isso a única coisa que Deus nos pede é a santidade e o compromisso. Deus Pai, ao longo do tempo, foi nos formando e nos fazendo. Sabe por que nós mais velhos e experientes somos tão bons? Porque o que falta em nós sobra no outro. O que falta em mim, sobra no diácono Nelsinho e nos demais. Bobo seria eu se não aproveitasse essa graça. Ao nos unirmos, nos tornamos mais fortes, somos mais. Hoje eu sou avó, o Heraldo é avó, e o tempo vai passando e vai mostrando as nossas riquezas da história e nos formando.
Ao olharmos para a nossa história e para o nosso chamado encontramos motivação para continuar. O melhor show é quando você consegue focar em dois ou três rostos, no qual, a cada música, você vai vendo a transformação dessas pessoas. Se nós havíamos sido convidados, em um show, a cantar dezoito músicas e na hora o organizador nos pede que cantemos apenas quatro, estas quatro músicas precisam ser a transformação para aquelas pessoas. Quando você vê a transformação das pessoas, já valeu a pena aquela música. Nós, músicos, precisamos saber de onde viemos. Busque a santidade, não deixe que a música acabe com a sua castidade. Não dá para ir para o motel e depois querer cantar na igreja. Seja fiel! Não faça isso, viva a castidade. Viva com honestidade, viva a castidade. Precisamos dar o melhor para o povo. Componha a sua história em Deus.
Canção Nova
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