Em nossos relacionamentos com as pessoas, existe um ritual que nós realizamos naturalmente, sem perceber. Por exemplo, quando queremos agradar uma pessoa a quem amamos, fazemos-lhe carinho, dizemos-lhe palavras boas, damos a ela alguma coisa, um objeto, um presente, que é nosso, de que nós gostamos, mas que queremos dar a ela como gesto de amizade.
De outras vezes, quando magoamos alguém, queremos fazer de tudo para apagar aquele gesto impensado: pedimos desculpas, lastimamos o nosso procedimento, até que sentimos que aquilo ficou esquecido. Nós nos penitenciamos diante das pessoas que amamos. Penitência é um ato de amor.
No nosso relacionamento com Deus, a penitência torna-se premente para nós. Temos necessidade de mostrar a Ele nosso amor porque tudo o que temos vem d’Ele e é d’Ele. Devemos mostrar-nos humildes diante d’Ele porque, sem a sua providência, nada somos. A recepção das cinzas na fronte, durante a missa da quarta-feira de cinzas, se feita com convicção, é um gesto de humildade muito agradável a Deus. Precisamos também nos penitenciar ainda mais porque erramos muito, pecamos e não correspondemos à magnitude do amor divino.
Mas Ele é misericordioso e basta um pequeno gesto nosso em sua direção que Ele se consome de piedade por nós.
A penitência implica em arrependimento, dor por causa de nossas falhas e propósito de evitá-las e confiança na ajuda de Deus. Nutre-se da esperança na sua misericórdia. Ela se exprime de formas muito variadas, em particular, com o jejum, a oração e a esmola. Essas e muitas outras formas de penitência podem ser praticadas na vida cotidiana do cristão, em particular no tempo da quaresma e no dia penitencial da sexta-feira.
A penitência interior é o dinamismo do “coração contrito”, movido pela graça divina a responder ao amor misericordioso de Deus.
A prática do jejum é uma forma de penitência. A Igreja nos pede o jejum durante a quaresma, mas podemos praticá-lo em várias situações. A propósito diz a legislação complementar do Código de Direito Canônico que: “Quanto aos cânn. 1251: 1. Toda sexta-feira do ano é dia de penitência, a não ser que coincida com solenidade do calendário litúrgico. Os fiéis nesse dia se abstenham de carne ou outro alimento, ou pratiquem alguma forma de penitência, principalmente obra de caridade ou exercício de piedade.”
Conhecemos pessoas que se privam de guloseimas agradáveis ao paladar, colocando esse sacrifício como uma alavanca por intenção de um ente querido.
Há também o jejum da palavra ferina. Muitas vezes temos ímpetos de dar uma resposta ofensiva a alguém. Mas, se nos abstemos disto, estamos praticando jejum. Somos convidados, por fim, a jejuar de todos os sentidos como maus pensamentos, maus olhares, maus desejos, más palavras, uso indevido de nossas mãos e de nossos pés na busca desenfreada das paixões desordenadas.
O repartir os nossos bens com outras pessoas é também uma maneira de jejuar. Neste mundo consumista, queremos sempre ter e nos esquecemos de dar. É um jejum admirável quando a pessoa se desprende do que gosta em detrimento do outro que necessita daquilo.
Enfim, uma penitência maravilhosa, prodigiosa é a oração. Assim como, no nosso dia-a-dia é necessário conviver com as pessoas, falar-lhes e escutá-las, mais ainda é preciso praticar a oração com Deus, falar com Ele e escutar o que Ele nos diz. Não podemos limitar nossas orações a pedidos. Só queremos falar com Deus pedindo, pedindo, pedindo...
Primeiro, nós O louvamos pela sua grandeza e majestade infinita. Em seguida, nós devemos agradecer a Ele tudo o que temos e somos. Depois disto, então, pedimos uma graça, uma bênção, uma providência, um socorro. Alguém já disse que "a oração é à força do homem e a fraqueza de Deus", porque Ele é que nos amou primeiro e quer que sejamos felizes. Importante, muito mais importante ainda, é que nós saibamos escutar o que Deus tem a nos dizer. Nós, na maioria das vezes, queremos só falar, mas, como num diálogo, precisamos aprender a escutar a Palavra de Deus.
E Deus, na sua insondável misericórdia, nos fala de várias maneiras: através da Bíblia, através dos acontecimentos, através da palavra de um amigo e até de um estranho. A nossa vida é uma constante palavra de Deus. A nossa própria consciência é a presença de Deus nos alertando sobre alguma coisa, tanto quando praticamos um gesto nobre como quando erramos.
Até em pensamentos podemos conversar com Deus. Ele nos deu vários caminhos para chegar a Ele, que está de mãos estendidas para nós. Só falta abrirmos o coração.
Padre Wagner Augusto Portugal.
FONTE: Rádio Vaticano
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